Separação entre Corpo e Pessoa

Chácara Jovem
3 min readNov 19, 2021

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Por Nancy R. Pearcey

O dualismo mente-corpo funciona através da divisão entre fato e valor: ser um humano biologicamente falando é um FATO científico; mas ser uma pessoa como um conceito ético, depende do VALOR das coisas.

A implicação dessa visão dividida é que ser simplesmente humano não lhe garante direitos. O dualismo mente-corpo presume uma visão muito baixa do corpo humano, o que, no fim das contas, desumaniza todos nós. Se os nossos corpos não têm valor implícito, então uma parte de nossa identidade é desvalorizada.

Assim, descobrimos que a dicotomia corpo/pessoa, com a degradação do corpo, é a suposição não explícita que dirige a cosmovisão secular sobre sexualidade, eutanásia, homossexualidade, aborto, transgenerismo…

De acordo com a dicotomia corpo/pessoa, apenas ser biologicamente humano não é moralmente relevante. Indivíduos devem conquistar o status de pessoa ao assimilar alguns outros critérios — a habilidade de se tomar decisões, exercitar o autoconhecimento, planejar o futuro, e por aí vai. Apenas quem satisfaz todas essas condições adicionais é que se qualifica como pessoa.

Aqueles que não atingem essas qualificações são rebaixados ao estado de não-pessoa. E uma não-pessoa é apenas um corpo — um pedaço descartável de matéria, um recurso natural que pode ser usado para pesquisas, para satisfazer desejos ou para propósitos puramente utilitaristas, submetidos somente a uma análise de custo-benefício.

Nesta cosmovisão baseada na ideia de que o corpo é separado da pessoa, o que você faz com sua sexualidade corpórea não tem conexão com o que você é como pessoa. Sexo se torna algo puramente físico, separado do amor.

Assim, o sexo se torna totalmente independente da pessoa — torna-se uma troca de serviços físicos entre indivíduos autônomos e desconectados. Nós tendemos a ver o hedonismo sexual como algo que valoriza a dimensão física do sexo, mas a realidade ele toma o corpo como algo sem valor, drenando o seu valor moral e pessoal intrínseco.

Mas, na cosmovisão bíblica, sexualidade é integrada à totalidade da pessoa. A mais completa e íntima união física tem o propósito de expressar a mais completa e íntima união pessoal do casamento. A moralidade bíblica é teleológica [relaciona o fato com a causa final]: o propósito do sexo é expressar a aliança de tornar-se uma carne que ocorre no casamento.

A maneira correta de nos cuidar não é usando contraceptivos, que leva ao encorajamento de encontros sexuais impessoais e não satisfatórios. É muito mais inspirar em nós e nos outros uma visão mais elevada da sexualidade. Na reconexão entre o corpo e a pessoa, nós podemos experienciar um profundo senso de cura e integração pessoal.

Nós, como seres humanos, somos um todo que envolve nossos corpos, mente e espírito. A nossa adoração a Jesus Cristo é sempre através de nossos corpos, e, portanto, devemos nos entender que não estamos desvencilhados de nossos corpos e buscarmos cuidar e usa-los da maneira que a Bíblia nos ensina, a maneira separada para Deus — a maneira santa.

Traduzido por: Henrique Kojin
Extraído parcialmente do capítulo “I Hate Me” do livro “Love Thy Body(Baker Books, 2018).

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Chácara Jovem, o grupo de jovens da Chácara Primavera. Somos transformados pelo Evangelho, engajados na Missão.