Superman, sexualidade e presença fiel
Por Henrique Kojin
Nos últimos dias tem repercutido na mídia e nas redes sociais o caso do Maurício Souza, atleta da seleção brasileira de vôlei, que, em seu perfil do instagram, postou uma foto do Superman beijando a Mulher-Maravilha como forma de protesto à declaração da DC Comics que afirma que o atual Superman, Jonathan Kent, filho de Clark Kent, é bissexual.
Os posicionamentos quanto ao caso têm sido divididos entre aqueles que acusam Maurício de homofobia e aqueles que defendem a liberdade de expressão do atleta.
Entretanto, na era da informação e das redes sociais, nada é tão simples ou tão moderado. Conservadores (em sua maioria, cristãos) têm postado imagens do Superman com sua família ou em algum relacionamento heteroafetivo. Progressistas têm aclamado a decisão da Comissão Brasileira de Vôlei e do Minas Tênis Clube — time o qual representava — de desligar o jogador e defendido os direitos da comunidade LGBTQIA+.
Toda essa discussão, como tudo o que acontece atualmente na internet, gerou polarização, divisão e ataques de ambos os lados.
Ao longo do mês de outubro refletimos juntos acerca do posicionamento cristão na sociedade e diante da cultura. Estudamos as quatro principais estratégias abordadas: o isolamento da bolha; o ataque da teologia do domínio; a tentativa de influência da relevância; e o posicionamento que entendemos ser bíblico da presença fiel.
Assim, surge o questionamento: como cristãos que desejam viver a presença fiel devem se posicionar e abordar esta questão?
Para responder essa pergunta, precisamos voltar a um tema que já discutimos este ano: a verdadeira narrativa. Como vimos, nós não somos seres racionais, não somos um cérebro no palito. Nós somos seres volitivos, somos movidos por desejos, pelos afetos. A maneira de mudarmos nossos desejos é através de narrativas que são construídas tanto de maneira lúdica e informacional quanto de rotinas e hábitos.
O que fazemos, pensamentos, lemos, ouvimos e assistimos formam, no longo prazo, nossas narrativas dominantes que mudam nossos desejos e, por consequência, nosso comportamento.
Assim, é de se entender o posicionamento mais tradicional quanto à sexualidade do novo Superman. As história em quadrinhos, os filmes, as séries, os livros, as músicas… Toda a arte nos influencia mais do que conscientemente acreditamos, elas tanto representam as narrativas dominantes da era em que são produzidas quanto formam ativamente as narrativas futuras.
Entretanto, é triste ver que assuntos sexuais são tão cataclísmicos em nossa sociedade. A Igreja Brasileira, como um todo, é reativa quando o tema é a sexualidade. Se assim não fosse, por que não houve nenhuma manifestação tão abrangente quando o Superman foi um ditador genocida ou servo de um regime comunista? Existem enredos nos quais o super-herói passou por sérios desvios de caráter e nada foi falado.
A realidade é que a resposta reativa e belicosa cristã nunca será uma boa resposta. Pelo contrário, agirmos de maneira reativa só demonstra que ficamos magoados pelo o que está sendo desenvolvido pela sociedade e pela cultura e tentamos, como cães raivosos que se sentem ameaçados, latir e morder aqueles que se aproximam de nós.
Ao nos sentirmos acuados, buscamos defender nossos valores atacando os nossos opositores. E, quando reagimos, só reagimos a algumas pautas. Escolhemos lutas, normalmente as que envolvem a sexualidade.
Chega a entristecer o fato de que cristãos tem se preocupado mais com sexualidade de personagens fictícios do que com a miséria que tem se alastrado em nosso país ou com pautas que a Igreja, como comunidade de Deus em ação no mundo, deveria estar enfrentando.
A teologia da presença fiel nos estimula a não revidarmos nem entrarmos numa guerra santa ideológica virtual. O Superman, por mais que possa ter sido associado a valores cristãos no passado, não é um símbolo de nossa fé. Ele não é alguém que cristãos devam imitar, por mais que suas narrativas nos inspirem, não há porque militar sobre suas façanhas.
A DC Comics é uma empresa e como tal está mais comprometida com o seu lucro do que com qualquer ideologia. Este é o sistema capitalista no qual estamos inseridos. Não há motivos para digladiarmos em redes sociais sobre o futuro de histórias em quadrinhos. A DC e suas histórias refletirão os valores da sociedade e farão o que for para atrair mais leitores que consumam mais de seus artigos para que enriqueçam mais.
Nós, como cristãos, precisamos entender que a cultura à qual estamos inseridos não é mais uma cultura cristã. Ela não confessa os valores que prezamos ou que a Bíblia nos ensina ser os valores de Deus. Nós somos um povo vivendo no exílio.
Como discípulos de Cristo, o nosso chamado é à obediência, à fidelidade, à santidade e à missão. Deus quer que nos relacionemos com Ele no nosso dia a dia e que vivamos de acordo com a Sua vontade em todos os momentos e lugares.
Mas esse chamado é para os discípulos de Cristo. Para aqueles que foram alcançados por Sua misericordiosa graça e que se renderam para o Rei que foi crucificado. Não devemos impor sobre os demais nossos valores.
Devemos então cruzar os braços e nada fazer? Não!
Devemos entender que a nossa identidade primordial é a de filhos de Deus e isso muda tudo o que fazemos, independentemente da atividade que estejamos realizando ou o local em que estivermos.
Devemos orar ao Criador, o Condutor da História, para que levante roteiristas, cartunistas, atores, escritores e artistas que professem a fé em Jesus Cristo e que produzam conteúdo e arte que expressa a verdadeira narrativa.
Devemos professar Jesus através de nossas ações e palavras para todos aqueles que se relacionarem conosco.
Nós somos um povo santo, não porque somos melhores do que os demais, mas porque fomos separados para Deus. Mas isso não nos leva para longe dos demais, isso nos traz um propósito, uma missão.
Nós devemos expressar nossa fé, nossa ética, nossa moral e nossa sexualidade de uma maneira sadia, santificada e influenciadora. Mas isso não se dá através de cruzadas virtuais de postagens, mas sim através de uma vida de fidelidade.
Se você chegou até aqui e todo este debate lhe trouxe dúvidas quanto a como o cristianismo entende a sexualidade bíblica, gostaria de lhe convidar a estar conosco ao longo do mês de novembro, quando conversaremos sobre como cultivar uma sexualidade bíblica.
Nosso primeiro encontro será no HangOut, dia 06 de novembro, às 19h, na Chácara Barão com transmissão pelo YouTube em nosso canal! Não perca!